O desafio de praticar atos de humildade parece atravessar a humanidade desde sua gênese. Entregar a vontade a atitudes e práticas genuínas sempre requer um esforço demasiado de desapego. A cultura, quase que em geral, é produzir, pois o capital exige isso: ser bem-sucedido, ser o número um, ser o centro. Pessoa nenhuma parece ter nascido para não ser grande, ou para ser só mais um.
A finalidade da existência parece ter ditado a regra de que precisamos ser melhores, até mesmo nas tristezas e desalinhos. A competição não equilibra o bom senso de fazermos parte de um todo. A ambição é colocada de maneira exacerbada, de modo que, se não formos o ouro do pódio, a medalha de competição não tem importância. Esquecemo-nos de que valeu a pena estar participando.
O valor da doação
Chega a dar calafrio pensar que a doação, como pessoa, é um atributo, um dom. É um ato de humildade que requer entrega, e não retorno.
- Por onde começar, quando se entende que o outro ser humano tem valor, um inestimável valor?
- Sempre haverá um início, se desejarmos.
Caminhar juntos: um desafio
Como reconhecer que é difícil caminhar juntos, lado a lado, em um mundo onde nossos valores e, muitas vezes, nossos instintos foram deturpados pela egomania, pelo autoflagelo e pela desconfiança?
A tais indagações, a resposta parece estar pronta há algum tempo: “Conheça-te a ti mesmo.”
O autoconhecimento como resposta
Sim, parece que a resposta está pronta. Mas como interagimos com o autoconhecimento sem desacerbar os conteúdos que encontrarmos de dentro pra fora?
- Como colocar em equilíbrio as deformidades do caráter junto com as qualidades?
- Saber que, por muitas vezes, a necessidade de censurar os pensamentos foi a dose homeopática que nos separou das atitudes monstruosas que vemos todos os dias em nosso mundo.
- Além das atrocidades que são o que mais se apontam em quase todos os meios de comunicação, como ter esperança sem criar terríveis expectativas?
- Como não apontar as faltas sem querer ser, ou fazer, justiça com as próprias mãos?
- Como falar de mim e me conhecer sem apontar uma causa externa como responsável por meus desalinhos?
Uma jornada de autoconhecimento
Começamos, então, uma jornada: um mergulho para dentro do ser, buscando coisas que, por muitas vezes, se ocultam abaixo do nível consciente.
- Reconhecer o ponto de partida:
A primeira coisa a ser feita – claro, não é regra – é reconhecer que se tem um problema, uma doença. - Descartar a ideia de autossuficiência:
A ideia de autossuficiência deve ser excluída. Saber que se é mais fraco, que se é impotente diante de quase tudo, requer coragem, discernimento e sabedoria. - Aceitar as fraquezas:
Reconhecer as próprias fraquezas não é uma atitude de humilhação.
Apoio e ajuda mútua
Precisaremos de outro ser humano que nos compreenda, seja ele:
- Profissional,
- Grupal,
- Religioso,
…até que as coisas comecem a fazer sentido.
A falta de sentido e a fé
Geralmente, a falta de sentido da vida, o desamor e a projeção de que o mundo nos odeia estão inclusas na vida espiritual, física e mental.
- A palavra certa, acredito como leigo, é “biopsicossocial”.
- Sem ajuda, é demais para nós.
E quanto aos que perderam, não querem saber da fé ou sequer de Deus?
- Acredite em alguma coisa.
- Nossos profissionais de saúde podem ser o início da marcha.
- A relação e a busca espiritual sempre serão individuais.
Eu, particularmente, não consegui sem Deus. Mas conheço pessoas que estão bem sem uma concepção formada de fé ou de Deus.
Aceitação e humildade
Atitudes humildes são encontradas em quase tudo. O primeiro degrau, acredito, se chama aceitação.
- Saber que, salvo em raras exceções, somos seres gregários.
- Sem “comunhão” e unidade, dificilmente seres como eu saberão se utilizar do direito de se assentar à mesa e provar desse lindo banquete que reina sob os cuidados do amor, que é a humildade.
Ponto de partida: Autoperdão.
A crença e a esperança
A crença em Deus, inicialmente, pode nascer da tentativa de não perder a crença na humanidade.
- Acreditar que a mudança é possível.
- Saber perdoar pode ser o princípio íntimo da esperança em algo maior.
Esperança de vivermos as primícias das virtudes:
- Mansidão,
- Domínio próprio,
- Amor incondicional.
Deus abençoe, até a próxima!
Autor do Artigo
Luiz Claudio de Souza Reis
Entusiasta do saber e da partilha, com formação interdisciplinar em Ciências Humanas.
Busco promover conexão e humanismo, incentivando superações e causas em favor da humanidade.
Dedico-me a questões sociais ligadas ao abandono e desamparo, promovendo amor, justiça social e a valorização dos valores humanos.
Gratidão e harmonia sempre.
Respostas de 2
Talvez a maior dor da humanidade seja se sentir rejeitado ou abandono e a tendência e se isolar ou se anular para se encaixar.
Ambos comportamentos, geram ainda mais dor. E a maneira que você pontuou, a jornada do autoconhecimento, da fé e humildade, traz alívio e cura para essa dor.
Muito bom.
A pressão social para ser um vencedor realmente distorce a essência da jornada, transformando o caminho em uma corrida cega por resultados. É triste ver valores e fé sendo sacrificados em nome de conquistas superficiais. O autoconhecimento, como você destacou no artigo, é essencial para equilibrar físico, emocional e espiritual, resgatando o propósito e a verdadeira realização. Que possamos sempre lembrar que o valor está em quem nos tornamos durante o percurso, e não apenas no ponto de chegada. Parabéns, pelo artigo! Excelente!